"The Wall" pode ser o melhor disco do Pink Floyd em termos de criatividade, mas certamente o que mais me chama a atenção há tempos é "The Final Cut". Ele é uma espécie de "continuação" do "The Wall", mas bem mais sombrio. É como se ainda existisse uma certa esperança ao final do "The Wall", a possibilidade de "derrubar o muro" simbolicamente (inclusive fizeram aquela palhaçada em Berlim, convenhamos...). Mas em "The Final Cut" essa sensação passa longe. Waters, mais depressivo que nunca, dedica o disco à memória de Erick Fletcher Waters, seu pai que morreu na Segunda Guerra Mundial. Por aí já vemos o tom da coisa.
Não por acaso é o último disco do Pink Floyd com a sua formação "quase" original (Richard Wright, falecido ano passado, não estava). Talvez por tão autoral e perturbador tenha sido o pivô da crise "final" que transformou o Pink Floyd em ação judicial e seus integrantes divididos, só retomando o nome (sem Waters e com Wright) em "A Momentary Lapse of Reason", de 1986, já com David Gilmour liderando a banda.
"The Final Cut" é um disco para se ouvir com atenção e força redobrada para não cair em depressão. Mas vale o risco. Apesar de toda a problemática egocêntrica de Waters não deixa de ser belo a exposição dos traumas humanos por uma via inegavelmente artística.
Ouça "The Gunner´s Dream" e "Fletcher Memorial" com especial atenção. Hoje em dia, com o google, fica fácil pegar as traduções caso haja essa dificuldade. Relembre o uso do sax, tão em moda nos anos 80, mas sem a pieguice que assolou o final da década. As guitarras de Guilmour e os efeitos sonoros ao velho estilo "The Wall".